Violleta
Ainda me lembro da primeira vez
De que me falaste da morte.
Exclamaste que a morte era um segredo
Sobre um segredo.
Quanto mais sobre ela sabemos
Mais mentimos sobre a sua essência.
Violleta
A minha infância morreu nesse dia.
Ainda te lembras quando foi?
Era Inverno e eu estava com frio, Violleta.
Tu, estavas pálida e com a saia do costume.
Todos sabemos
Que não passa de um vistoso ponto final
Que sucede a uma afiada vírgula mal engolida.
Faz ferida mas não dói.
Já doeu, Violleta.
Vale tudo
Neste grandioso formol
De luzes fundidas e reticentes.
É um corredor de espelhos partidos
Que reflectem todas as pequenas partes
Que nos constituem.
São noites tempestuosas
Onde chovem cavilhas ferrugentas
Que nos ferem o corpo
Num breve suspiro
Que nos marca para sempre.
Aos poucos
Ensinaste-me a dormir sem ter medo
Cantavas canções de embalar
Até que caísse num mundo irreal
Sem fendas nem tremores.
Eram longas as noites
Em que pairávamos sobre estacas ensanguentadas.
Sentíamos o verdadeiro cheiro do sangue.
Cheirava a pétalas de orquídea
A pó e a cofre aberto.
Costumávamos reparar no som
Assemelhava-se ao de um vinil riscado.
Agora, Violleta
Agora que estamos mortos
Frios e longínquos
Que sabemos sobre a morte, Violleta?